Os Jogos e suas possibilidades, 01: Apresentação e o conceito de jogos.

Bem, estrearei com essa postagem, a minha participação no Blog da ICare Games. Antes, se permitirem, deixe apresentar-me. Meu nome é Pedro Gress, sou graduando pelo curso de Jogos Digitais na Universidade Católica de Pernambuco e formado na primeira turma de Desenvolvedores de Jogos Jr. na Escola Técnica Estadual Cícero Dias. Possuo uma startup incubada no Porto Digital, a ICare Games, uma empresa de serious games voltada para produção de jogos com temáticas ambientais, sociais e educacionais. Ao longo desses curtos cinco anos estudando e trabalhando no desenvolvimento de jogos, foi inevitável a percepção de que jogos vão muito mais além do entretenimento. E é justamente sobre esse mundo de possibilidades dos jogos que irei compartilhar com vocês nessa série intitulada de “Jogos e suas possibilidades”.

Mas quais são as possibilidades dos jogos? Quais as suas aplicações fora do mundo do entretenimento? Procurarei responder essas e outras perguntas ao decorrer desta série. Mas antes, vamos falar um pouco sobre o conceito de jogos.

Para falar sobre os jogos e suas possibilidades, é interessante fazermos uma breve definição do que é realmente “Jogo”. À primeira vista, o conceito de jogo parece ser simples, afinal sempre estivemos em contato com ele, seja como sociedade, seja como individuo. Mas será que esse conceito subjetivo que possuímos acerca dos jogos é suficiente para nós sabermos quais os elementos que constituem um jogo? E qual foi, e continua sendo, o papel dos jogos na sociedade para todas as culturas?

Vamos começar definindo o jogo através do pioneiro: Johan Huizinga. Em 1938, Huizinga lança seu livro Homo Ludens, que traz uma abordagem filosófica sobre o jogo e o seu conceito, aonde os jogos aparecem como uma categoria primaria da vida, tão importante quanto o pensar (homo sapiens) e a fabricação de objetos (homo faber). A partir desse conceito surge o Homo Ludens de Huizinga, um ser ao qual o jogo é enraizado na própria cultura humana e exerce papel fundamental na sua criação. 

Apesar de Huizinga ter sido o pioneiro, outros antes dele produziram artigos e textos sobre os jogos. Contudo, os estudos sobre os jogos anteriores a Huizinga, visavam uma explicação biológica acerca dos jogos e não procuraram entender do que realmente tratava-se o jogo ou o que ele representa para o jogador. Sendo assim, o autor define, na sua forma mais primitiva, o jogo como sendo uma atividade livre, onde o jogador tem a consciência que está num mundo fictício e a parte da vida habitual que possui regras e uma certa ordem ao qual deve ser respeitada em prol de um jogo justo, onde este mundo não tem nenhuma finalidade lucrativa, que possui finalidades e objetivos e agregador de pessoas com os mesmos interesses. 

Muitos vieram após Huizinga na definição de jogo, de forma concisa e condizente com a nossa realidade tecnológica. Contudo, ainda hoje, após mais de 70 anos, ainda não temos uma definição concreta do que se é jogo. E para não estendermos muito aqui, estou indo direto para a outra ponta da linha histórica: o que há de mais moderno na definição de jogo.  Então, se não conseguimos definir o que é realmente um jogo, Jesper Juul consegue ao menos mostrar o que é e o que não é jogo. A análise de Juul foi baseada não somente nos estudos de Huizinga, mas também nos de Caillois, Bernard Suits, Avedon & Sutton-Smith, Chris Crawford, David Kelley e Sallen & Zimmerman.

A partir da análise feita por Juul, dez pontos em comum surgem entre todas as definições anteriores, que ao rearranjar, diminui-se para seis. Que são elas: 
  1. Regras;
  2. Resultado variável e quantificável; 
  3. Valorização do resultado; 
  4. Esforço do jogador; 
  5. Vínculo do jogador ao resultado; 
  6. Consequências negociáveis. 

A partir dessas características, Juul monta uma tabela  ao qual o pesquisador consegue mostrar a diferença entre jogos, quase-jogos e não-jogos.


Contudo, “a definição não é completa, nem fechada, e ainda que seja uma boa tentativa, é cheia de limitações. [...] O problema é que os círculos que definem fronteiras no diagrama de Juul na realidade deveriam ser representados por zonas difusas e permeáveis.” (João Ranhel, 2009). O próprio autor aponta para que alguns autores que ainda prefiram dizer que jogos não são definíveis ou compreensíveis. Juul prefere apontar e falar sobre os limites do que é e o que não é jogo.

Todavia, não existe nenhum problema em não existir uma definição concreta acerca dos jogos e sobre o que realmente é um jogo ou de variações sobre tal. Pois, definições de temas tão abrangentes sobre o que é e o que não é, é mais comum do que se imagina. Vide casos: Música, arte, esporte etc.

Baseado na ideia do que são jogos e quase-jogos é que vamos tentar entender as aplicabilidades dos jogos e de suas utilizações cada vez mais presentes na nossa sociedade. Até breve e boas festas!
               



Um comentário:

  1. Cara muito bom! Continue assim! Realmente a questão de julgar qual seria a definição correta de jogo não é o dilema principal e sim, as aplicações dos jogos na sociedade. flws man! Abrass

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